“Na economia capitalista, o mercado premia as coisas que são raras e valiosas. O uso das mídias sociais decididamente não é algo raro ou valioso. Qualquer garoto de 16 anos com um smartphone pode inventar uma hashtag ou criar um post viral. A ideia de que se você se engajar o suficiente nessa atividade de baixo valor irá acrescentar algo valioso a sua carreira é tão dúbia quanto a eficácia de usar óleo de cobra nos negócios”, escreveu. A expressão “snake oil” (óleo de cobra) significa um produto medicinal cuja eficácia não foi comprovada. No mundo dos negócios, o “snake oil salesman”, é o charlatão, aquela pessoa que vende um produto sabendo que é falso.
Sucesso profissional é algo, de fato, difícil — mas não tão complicado quanto parece, defende Newport. “A base da realização e satisfação requer — na maioria dos casos — que você vá aperfeiçoando o seu ofício, sua arte, e aplique-o em coisas nas quais as pessoas se importam. Essa é uma filosofia que talvez possa ser melhor resumida através de um conselho que Steve Martin deu a jovens que aspiram uma carreira no mundo do entretenimento. \’Seja tão bom que ninguém vai te ignorar\’. Se você conseguir fazer isso, o resto do mundo vai aparecer para você, independente do tamanho de sua conta no Instagram ou quantos seguidores têm”, analisa Newport.
“Mas por que as pessoas não deveriam se expor nas redes, abrindo-se a oportunidades e conexões que as redes podem fornecer?”, retrucam os críticos ao pensamento de Newport. O professor e pesquisador responde com dois motivos: o primeiro é que oportunidades interessantes e conexões úteis, segundo ele, não são assim tão escassas fora do mundo online quanto as mídias sociais propagam. “Eu sou um profissional autônomo, por exemplo, e a medida que fui desenvolvendo minha carreira como acadêmico e escritor fui recebendo mais oportunidades do que era capaz de lidar. Isso porque eu tenho filtros no meu site que já reduzem consideravelmente o número de ofertas que posso receber para algum tipo de trabalho.”
Suas pesquisas como acadêmico envolvem investigar como profissionais de sucesso agem e Newport diz que encontrou uma característica comum a todos eles: a medida que você vai se tornando mais valioso no mercado de trabalho, boas coisas ocorrerão a você. “Não estou aqui argumentando que fazer conexões e ir criando oportunidades não é importante. Pelo contrário, estou argumentando que você não precisa das mídias sociais para criá-las”, disse.
O segundo ponto que Newport defende é que as mídias sociais são, no fim, inócuas “considerando um mundo no qual a habilidade de se concentrar sem distração em tarefas difíceis está sendo cada vez mais demandada e valorizada em uma economia global em crise”. “As mídias sociais enfraquecem essa nossa habilidade porque são feitas para que nos viciem. Quanto mais você usa a mídia social, mais ela é desenhada para que você a use — mais o cérebro aprende a implorar por uma notificação rápida ao menor indício de tédio”, disse. “Parte da minha rejeição pessoal com relação às mídias sociais vem do meu receio de que esses serviços irão minar minha habilidade em me concentrar — uma habilidade com a qual eu construí minha vida.”
Para Newport, a ideia de “colocar sua vida propositalmente em um serviço desenhado e construído para fragmentar minha atenção é tão assustadora quanto fumar pode ser a um atleta de ponta”.
Ele defende que as pessoas seriam mais produtivas se elas não precisassem ficar cultivando suas próprias marcas nas redes sociais. “A maioria das redes sociais é melhor descrita como uma coleção de serviços de entretenimento pouco triviais que competem entre si. Essas redes são divertidas, mas você estará se iludindo se achar que as mensagens recebidas no Twitter, seus posts ou likes são um uso produtivo de seu tempo”, analisa. “Se você está comprometido em criar impacto no mundo, desligue seu celular, feche as abas de seu computador, arregace suas mangas e vá trabalhar.”